terça-feira, 23 de novembro de 2010

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O TREINAMENTO PARA MMA - 1


Diversos dados mostram que o MMA é hoje o esporte (em números) que mais cresce no mundo. Vários eventos sendo realizados, ótimos atletas sendo revelados, etc. Com a preparação física voltada à modalidade não acontece diferente, vem crescendo bastante e por isso resolvi escrever um pouco sobre o que venho observando e aplicando com os atletas da modalidade, algumas críticas e sugestões de intervenções. Como são vários pontos, resolvi dividir em 2 partes, para não deixa-lo demasiado grande.

Este artigo de certa forma complementa a série de artigos escritos no início deste ano (http://readytolife.blogspot.com/2010/02/principais-erros-na-preparacao-fisica.html), onde escrevi sobre os principais erros envolvendo o treinamento destes atletas.

1 – Nem tudo é porrada

Se você é dos que pensa que como a vida do lutador de MMA é lidar com porrada e por isso os treinos físicos destes devem ter a mesma tônica, você provavelmente nunca será ou terá nas mãos um lutador top, pois sempre deixará alguma falha passar por falta de um olhar crítico.

Flexibilidade por exemplo é uma capacidade extremamente negligenciada nos centros de treinamento, pois a maioria se acha flexível o bastante, quando na verdade não são tão flexíveis assim, apenas compensam. Conhecida como flexibilidade relativa. É como se o corpo escolhe-se o caminho mais “fácil” para se chegar àquela determinada amplitude. Observo muitas compensações nos nossos atletas de Jiu-jitsu. Numa posição de guarda fechada, por exemplo, boa parte não tem mobilidade suficiente do quadril para executar uma boa guarda e a compensa com flexão lombar. Nos últimos meses tenho lido algumas matérias envolvendo grandes nomes do MMA e jiu-jitsu e lesões de coluna. O lance chave é que normalmente indivíduos compensadores são os que mais se lesionam. Essas compensações são diversas, e sempre envolvem um balanço negativo entre mobilidade e estabilidade (ver pirâmide no artigo QUER DESENVOLVER POTENCIA? SEJA FORTE ANTES!). Qualquer indivíduo com boa mobilidade tem maiores chances de ser mais forte do que o “travadão”.

2 – Os tais treinos específicos

Outro ponto que me incomoda é o quão “específico” ficaram os trabalhos destes atletas. Nos casos dos atletas de jiu-jitsu, não basta todo o tempo em que eles ficam agarrados aos kimonos, tem ainda que realizar várias séries de puxada nas academias segurando lapelas de kimono? Realmente acho que isso pode lesiona-los por sobrecarga. Assim como damos descanso ao corpo após treinos intensos, os dedos e músculos do antebraço também merecem descanso.

3 – Treinar em dias próximos a luta

Toda (ou quase toda) literatura envolvendo treinamento desportivo e programação de treinos cita a necessidade de “descanso” para um atleta pré-competição. No caso do MMA, por todo o amadorismo que ainda rodeia o meio, considerando que oficialmente o MMA possui algo próximo de 20 anos de idade somente, grande parte dos atletas insistem em se exercitar até poucos dias que antecedem uma luta. Veja bem, se você se preparou durante 3-4 meses não será na semana que antecede o evento que você conseguirá o “up” que talvez precise. O benefício pode não compensar o risco.

SEJA FORTE! SEJA ESPERTO!

Rafael Felix

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

NEM TUDO SE RESUME A "INTENSIDADE"

Costumo dizer muito essa frase: “Nem tudo se resume a intensidade”, levando em consideração a comum idéia de que treino intenso é aquele onde cargas altas são erguidas.

O próprio conceito de intensidade é distorcido no meio da atividade física. Intensidade está muito mais relacionada a percepção de esforço dentro da sessão de treino do que propriamente ao quanto consegui erguer de peso nos exercícios realizados.

Os mesmos indivíduos que erguem vários quilos na academia são os mesmos que choram (algumas vezes literalmente) com menos da metade do peso quando seus pontos fracos são expostos. São os famosos indivíduos compensadores.

Indivíduos compensadores são aqueles que sacrificam bons padrões de movimentos com padrões falhos afim de impor mais intensidade. Em outras palavras, executam mal pra poder colocar mais carga ou executar por mais tempo (em geral mais carga).

Resumindo, grandes cargas adicionadas a técnicas mal executadas são risco e fatalmente vão levar a lesões. Acredito que boa parte dos que lerem este artigo vão se lembrar da dor no ombro que sentiram após aquelas intermináveis séries de desenvolvimento, ou das dores no quadril ou joelho após o pesado “treino de perna”.

Nada contra cargas altas, pelo contrário, sou fã de treinos “intensos”, desde que dentro de padrões minimamente corretos. Nem culpo os adeptos da musculação, o meio é pesado! Somos incentivados principalmente pelo meio a trabalhar cada vez com mais carga, coisas como “você tem que aumentar a carga a cada treino pra poder ter efeito”.

O pior é que isso vai se tornando um ciclo vicioso, cada vez mais bons padrões vão sendo substituídos por padrões ruins e o corpo vai se acostumando a essa realidade. E como dá trabalho o resgate de bons padrões! Primeiro porque não querem diminuir suas cargas, por razões óbvias do contexto, segundo porque pode ser muito demorado e por vezes mais doloroso do que os treinos a que estava acostumado.

Nem sempre tive essa concepção do que é realmente intensidade, e por algumas vezes já me prejudiquei pensando assim, tanto ao me machucar treinando mal, quanto ao machucar meus atletas ao os expor a cargas elevadas sem técnica (mobilidade e estabilidade) adequados. E por muitas vezes tentei me isentar da responsabilidade. Hoje se alguém se machuca no meu espaço de trabalho a culpa é minha, independente da situação.

Pra terminar, tente experimentar em você, como desafio, caso tenha se considerado um indivíduo compensador, exercícios que imponham menores cargas (nem por isso menos intensos), como o agachamento livre unilateral ou supino unilateral e observe como você se sai, se terá dificuldades para realizar com boa técnica e amplitude. Você poderá descobrir que não é tão forte (outra nomenclatura distorcida pelo meio) assim mas ao mesmo tempo verá um novo horizonte em seus treinos.

Treine FORTE! Seja ESPERTO!

Rafael Felix

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

QUER MAIS RESISTÊNCIA? ENTÃO SEJA FORTE!


Dando continuidade ao artigo anterior, em que tratei sobre a capacidade física POTÊNCIA, hoje tratarei sobre uma outra capacidade, não menos importante e que a complementa, que é RESISTÊNCIA.

Bem, assim como POTÊNCIA é a capacidade de realizar FORÇA no menor tempo possível, RESISTÊNCIA é a capacidade de realizar FORÇA no maior tempo possível.

Sendo assim, novamente FORÇA é a capacidade mãe. Quanto mais FORÇA voce puder exercer, maior é seu potencial de ser um indivíduo mais resistente.

Não é atoa que os maiores nomes das maratonas vem hoje complementando o seu trabalho com treinamento de FORÇA, não só afim de melhorar seus tempos nas pistas e ruas, mas também de se reabilitar ou evitar lesões, já que musculos fortes são mais estáveis e menos propensos a lesões em geral.

Dicas para maratonistas e demais atletas de endurance: Como voces lidam com transferencia de carga entre os membros, valorize treinos de base assimétrica, como no vídeo abaixo. Assimetrias de força, estabilidade, coordenação podem ser observados e corrigidos com exercícios unilaterais e/ou de base assimétrica, como afundos, lunges, etc.

Ferramentas como Kettlebell são extremamente úteis para esta finalidade, já que além de poder proporcionar ganho de FORÇA, promove estabilidade e mobilidade (PIRAMIDE) de uma forma muito inteligente para o corpo.

SEJA ESPERTO! SEJA FORTE!

Bons Treinos!

Rafael Felix