domingo, 14 de março de 2010

O RESGATE DO ANDAR/CORRER DESCALÇO


Adaptação do texto inicial de Christopher McDougal, publicado originalmente em www.strengthcoach.com


Fui afetado por lesões durante toda a minha vida adulta. Eu visitei o melhor medico do desporto e pedicures do país, e todos eles me prescreveram a mesma fórmula infrutífera de ortopedia, gelo e injeções. Nada nem ninguém poderiam me curar. Então, há alguns anos atrás procurei outro lugar: uma pequena trino de super-atletas mexicanos, que me mostrou o que não funcionava e que era perigoso - o tênis.


Isto mesmo.Tênis são uma experiência fracassada. Depois de quase quatro décadas de artifícios tecnológicos e preços exorbitantes, eles simplesmente não executam a função que é sua única razão de existência - proteger os pés. Agora você pode comprar tênis com molas de aço incorporado na sola ou com microchips que ajustam o amortecimento, mas a taxa de acidentes não diminuiu em quase 40 anos. Pelo contrário, subiu. Problemas de tendão de Aquiles "aumentaram 10 por cento desde os anos 70.


Alguns pesquisadores sugerem que os tênis de corrida realmente causam mais lesões do que evitam. Essa idéia já existe a algum tempo, para mais de 1 década, mas está ganhando força novamente, graças ao trabalho de Daniel Lieberman, professor de antropologia da Universidade de Harvard que está estudando a biomecânica do pé e da evolução do movimento humano. Antes da invenção do tênis moderno, os corredores não poderiam aterrisar em seus calcanhares - era simplesmente doloroso. Hoje pousamos sobre nossos calcanhares e isso nos leva a uma pronação excessiva.


"Um monte de lesões de joelho que estão atualmente nos assolando são causadas por pessoas correndo com tênis que fazem nossos pé fracos, nos levam a excesso de pronação e nos levam a esses problemas", disse Lieberman à rádio australiana no ano passado. "Até 1972, quando o tênis atlético moderno foi inventado pela Nike, as pessoas corriam com tênis de solas muito finas, tinham pés fortes, e provavelmente tinham muito menos lesões de joelho".


Então, o que os corredores devem fazer? A resposta parece mais clara do que nunca: corra descalço, ou o mais próximo possível. Esta revelação ocorreu-me logo depois que me deparei com uma foto impar em uma revista mexicana. Ele mostrou um homem em uma saia "derubando" uma trilha rochosa, sandálias nos pés e um sorriso no rsoto. Ele era um índio Tarahumara, um membro de uma tribo que percorre corridas de 150 milhas (240km) somente para seu divertimento.


Como o Tarahumara consegue correr com algo que mal podemos classificar como tênis? Três anos atrás, eu caminhei para os cânions de cobre de México em busca do segredo. E eu aprendi a correr descalço - aterrisando no peito do pé, mantendo meus pés diretamente sob os meus quadris - como o Tarahumara, meus males desapareceram de repente. Fascite plantar, tendinite de Aquiles, dor nos joelhos - tudo desapareceu. Hoje, calço algo semelhante a uma luva de borracha para o pé (uma sola de borracha fina), e eu não olhei para trás.

Não foi um milagre, é mecânica simples, explica Lieberman Ele está convencido de que nossos problemas começaram no dia em que o homem tentou desmerecer a natureza e fechar os nossos pés em tenis para controle de movimento. Outros concordam. Gerard Hartmann, fisioterapeuta na Irlanda, que trabalha com o recordista mundial Paul Radcliffe e que é consultor da Nike, admitiu no ano passado que a falta de condicionamento dos músculos dos pés é a principal razão de lesões. Ele comparou a uma bota de gesso ortopédico, que causa atrofia dos músculos dos pés. As empresas explicam a necessidade de tênis especialmente concebidos sobretudo a questão do amortecimento.

Talvez seja a hora de todas as empresas fabricantes de calçados observarem a corrida dos Tarahumaras também.



BONS TREINOS!


Rafael Felix

quarta-feira, 3 de março de 2010

TREINAMENTO PARA ATLETAS DE ENDURANCE

Treinar atletas de endurance (maratona, triatlon, etc) pode ser uma tarefa ingrata ou bem sucedida, dependendo da sua capacidade de entender esse publico. A verdade é que os atletas de endurance, profissionais ou amadores, têm um monte de qualidade que fazem deles clientes desejáveis.Eles são geralmente muito motivados, precisam de ajuda e, muitas vezes tem boas condições financeiras.

Há algumas coisas que precisamos entender para treinar atletas de endurance e a primeira delas é "Por que eles escolheram o endurance?".

Algumas considerações ajudam a responder esta questão:

1) Predisposição Genética - Eles sempre foram bons em atividades de maior duração

2) Predisposição Mental - Eles têm o que os especialistas chamam de perfil tipo A. São extremamente tolerantes às solicitações impostas pelas atividades.

3) Combinação das duas primeiras.

As características de predisposição genética e personalidade são primeiramente fatores positivos, mas podem facilmente se voltarem contra você. Altos níveis de motivação e trabalho podem inicialmente produzir grandes resultados. No entanto, muitas vezes eles também produzem lesões. O que faz você treinar duro pode fazer também você se lesionar.

A verdade é que o treinamento de endurance provavelmente não é bom para ninguém. O índice de lesões nesta população é alto, as exigências das modalidades de endurance são muitas vezes desumanas, porém nenhum atleta quer ouvir isso. Isto é o que eles fazem e não estão dispostos a mudar porque você ou eu achamos que ele pode se lesionar. Então aprendi que se você não pode mudá-los, então os ajude.

Uma profissão parceira das modalidades de endurance é a fisioterapia. E os fisioterapeutas tem muito a agradecer aos entusiastas da atividade aeróbia dos anos 70 (Cooper e demais), por todo esse boom das atividades de longa duração

Os atletas de maratona que conheci nos ultimos tempos têm fisioterapeutas que são quase parentes, isso devido à quantidade de vezes que eles vão a seus consultórios. Mike Boyle (www.strengthcoach.com) coloca essas lesões no que ele chama de "Ciclo do Endurance", que funciona da seguinte maneira:

Treino--->Lesão--->Reabilitação/Fisioterapia--->Treino--->Lesão--->Reabilitação/Fisioterapia

Esta perspectiva é tão verdade que muitos atletas têm a lesão como uma coisa intrínseca à sua vida e quando a adquire não se surpreende, pois são “normais”.

O excesso de lesões que acometem esse público é acompanhado por igual nas tentativas mal sucedidas de resolver esses problemas, principalmente porque temos um sistema de saúde voltado ao sintoma e não à origem da doença. Uma outra questão que Boyle cita é o caso dos “Três Is”, que tem mais ou menos esta dinâmica:

Adquiri-se uma lesão e a partir daí:

1) Ingesta de Antiinflamatórios – sem interrupção dos treinos

2) Injeção de Antiinflamatórios – sem interrupção dos treinos

3) Intervenção Cirúrgica, o famoso “vamos dar uma olhadinha” – com interrupção obrigatória dos treinos.

Uma lesão, não sendo traumática (acidente envolvendo queda, por exemplo), é resultado do que chamamos de “overuse”, e vai sendo construída ao longo dos tempos até se tornar limitador da atividade, e aí os “Três Is” entram em ação.

O que fazer então?

Primeiramente é descobrir o local ORIGEM da lesão. Boyle cita um exemplo em seu texto Training Endurance Atlhetes que ilustra bem esse ponto. Pegue uma banda elástica (Terá Band ou outra qualquer) e posicione envolvendo a parte posterior da cabeça de alguma pessoa. A seguir puxe tracionando a cabeça do indivíduo à frente. Provavelmente ele sentirá algum incomodo que não é devido a algum problema na cervical ou cabeça dele, mas sim à band. As chances de uma lesão no joelho ter como causa as estruturas que formam esta articulação são baixas, muito provavelmente quadril ou joelho (ou ambos) estão em desequilíbrio provocando esta instabilidade que causa a lesão.

Uma vez que se descobre o desequilíbrio que causa a dor ou lesão, as chances de sucesso num tratamento/treinamento são enormes.

Quanto ao treino: TREINAMENTO INTERVALADO. Provavelmente eles não gostarão da idéia de treinar curto e rápido pois estão muito adaptados as solicitações longas, porém é fato que o treinamento intervalado promove maiores ganhos cardiorespiratórios do que o convencional, além de promover adaptações favoráveis no metabolismo anaeróbio, ou seja, melhora a capacidade de suportar altas intensidades de treino.

Treine FORÇA. Para um atleta de endurance, duas sessões de treino de força semanais bem realizados podem mudar suas vidas. Mantenha o programa breve e simples. Trabalhe mobilidade de tornozelos, quadris e coluna torácica em seu aquecimento. Trabalhe estabilização dos joelhos e coluna lombar, através de um programa adequado para core e parte inferior do corpo. Seja específico nos estímulos. Trabalhos de perna única são excelentes para estes atletas.

Trabalhe os pontos fracos de seu atleta. Compre um rolo de EVA ou espuma para liberação miofascial. QUALIDADE e não quantidade.

Para terminar, vá com calma, não queira mudar a sua vida ou de seu atleta de uma única vez. Introduza aos poucos uma nova rotina a ele.

BONS TREINOS

Rafael Felix